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INCLUSÃO ESCOLAR ou A ARTE DE FINGIR QUE ESTÁ TUDO BEM!

  • Foto do escritor: Paulo Garcia
    Paulo Garcia
  • 28 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 18 de jun.


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Falar sobre inclusão nas escolas virou quase um mantra. Todo mundo repete com convicção: "É preciso incluir! Todo aluno tem direito à educação de qualidade!" E não podemos discordar, até porque temos consciência da importância disso. Mas basta abrir a porta de uma sala de aula e olhar com mais atenção para perceber que, muitas vezes, o que se chama de "inclusão" é, na prática, uma maneira sofisticada de exclusão disfarçada de boas intenções.

 

Afinal, o discurso é bonito, mas a realidade é dura. O aluno com deficiência é matriculado, recebe seu lugar na chamada, e pronto: a mágica está feita. Que maravilha! A escola é "inclusiva"! Só esqueceram de combinar com a estrutura, com a equipe e, principalmente, com a formação adequada dos profissionais. Detalhes, não é?

 

Comecemos pelos professores. Heróis diários que, em meio a turmas cheias, conteúdos extensos, cobranças por resultados e reuniões intermináveis, ainda são pressionados a atender um aluno com necessidades específicas como se tivessem uma formação multidisciplinar em pedagogia, psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, tudo isso em um só corpo e com salário de professor mesmo. E se o aluno não evolui? A culpa é, claro, do professor, que "precisa se capacitar mais".

 

Ah, sim, os cursos! Toda semana aparece um novo: "Inclusão na prática", "Como acolher todos", "Educação para todos". Uma chuva de lives e formações com frases motivacionais, mas que raramente mostram o que fazer quando o aluno entra em crise no meio da aula, quando não há material adaptado, ou quando a estrutura física da escola é um obstáculo maior que a própria deficiência. Cursos que ensinam teoria, mas esquecem da realidade. Fácil incluir no papel. Difícil é no concreto da escola com piso irregular, escada sem corrimão e banheiros que mal servem para quem caminha com as duas pernas.

 

E então, para "cumprir a legislação", vem a cereja do bolo: o profissional de apoio. A figura que deveria ser uma ponte para a autonomia do aluno, mas que, sem formação, orientação ou qualquer preparo técnico, vira, na prática, uma babá escolar. Fica ali, do lado, segurando a mochila, anotando as tarefas, distraindo o aluno para ele não "atrapalhar a aula". Isso é inclusão? Ou é só mais uma forma de manter o aluno à parte, com aparência de participação?

 

Sem falar do próprio aluno, claro. Porque ninguém parece muito interessado em ouvir dele como se sente. A inclusão não é só sobre estar fisicamente presente na sala, é sobre pertencer. Sobre aprender de verdade. Sobre ser respeitado em suas diferenças. E nesse quesito, a escola ainda engatinha, mas com um banner lindo na entrada dizendo "escola inclusiva".

 

E quando os questionamentos surgem, a resposta vem pronta: "Estamos avançando". Sim, mas para onde? Porque incluir sem preparar, sem ouvir, sem adaptar, sem respeitar, não é avanço. É maquiagem pedagógica. É um faz de conta institucional.

 

É louvável o que vemos alguns professores/instituições fazerem. Mesmo sem recursos, mesmo sem formação devida, mesmo sem apoio, tentam incluir o máximo possível os alunos em todas as atividades que propõe. Mas são oásis, no meio de um enorme número de uma rede a nível nacional de ensino.


Mas o ápice dessa contradição chega quando batem à porta as famosas avaliações externas. Ah, essas! As provas padronizadas que medem a "qualidade" da educação, que comparam escolas, que geram índices e estatísticas. De repente, todo aquele discurso bonito sobre respeitar as diferenças, sobre cada um ter seu tempo, sobre adaptações necessárias, simplesmente evapora. Como num passe de mágica, todos os alunos (absolutamente todos!) precisam fazer a mesma prova, no mesmo tempo, com as mesmas questões.

 

O aluno com dislexia? A mesma prova. O estudante com deficiência intelectual? Idêntica. Aquele com transtorno do espectro autista que não suporta ambientes barulhentos? Que se vire na sala lotada durante a aplicação. A aluna com baixa visão? Bem, talvez receba uma prova com letra um pouco maior, se tiver sorte e se alguém lembrar de solicitar com antecedência. Afinal, inclusão é isso: tratar os diferentes... exatamente igual, não é?

 

E o mais irônico: essas mesmas avaliações externas são usadas para medir o sucesso das políticas de inclusão! É como se alguém dissesse: "Vamos ver se a inclusão está funcionando fazendo todos passarem pelo mesmo funil estreito, independentemente de suas características". Uma lógica tão absurda que seria cômica, se não fosse trágica.

 

Os professores, que no dia a dia se desdobram para adaptar materiais e estratégias, de repente se veem obrigados a "preparar" esses alunos para uma prova que ignora completamente suas especificidades. "Desculpe por todas aquelas adaptações que fizemos durante o ano. Agora você precisa se encaixar no modelo padrão." E assim, em nome da "qualidade da educação", reforça-se justamente o que a inclusão deveria combater: a ideia de que existe um único caminho, um único formato, uma única forma de demonstrar conhecimento. É uma esquizofrenia pedagógica institucionalizada.

 

E quando os resultados dessas avaliações chegam (geralmente ruins para os alunos da inclusão, o que não surpreende ninguém) começa uma nova rodada de culpabilização. A escola não está incluindo direito. Os professores não estão preparados. Os alunos não estão se esforçando o suficiente. Nunca se questiona o instrumento em si, a lógica perversa de avaliar de forma padronizada quem tem necessidades diversas.

 

É como se um médico receitasse o mesmo remédio para todos os pacientes e depois se surpreendesse que alguns não melhoraram. "Mas o remédio é bom! Funcionou para a maioria!" Sim, mas e aqueles para quem não funcionou? São exceções descartáveis? Na educação inclusiva, aparentemente sim.

 

Enquanto isso, os formuladores dessas políticas seguem em seus gabinetes, longe das salas de aula reais, criando mais e mais avaliações padronizadas, mais e mais índices, mais e mais comparações. E o discurso da inclusão segue bonito nos documentos oficiais, nas palestras motivacionais, nos cursos de formação. Só não chega onde deveria: na prática avaliativa coerente com a diversidade humana.


Ressalta-se que muitas vezes, na esfera municipal, essa questão conta com algumas correções e/ou adaptações, porém, quando é em maior escala, ou seja, em nível estadual ou municipal, a situação se torna evidente.

 

Mas, no final do dia, muitos voltam para casa com a sensação de dever cumprido. A escola cumpriu a lei, o sistema tem os números, o professor sobreviveu a mais um dia, o profissional de apoio fez o possível. E o aluno? Esse segue esperando por uma inclusão que vá além da matrícula. Que aconteça de verdade, com respeito, estrutura, escuta, e não com improviso e maquiagem pedagógica. Uma inclusão que se reflita não apenas no discurso, mas em cada aspecto da vida escolar.



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1 comentário


Marcia Lima
Marcia Lima
06 de set.

Com todas as dificuldades nossas, de professores, há algo que os alunos especiais nos proporcionam abundantemente.. o afeto, o olhar td especial, aquele abraço.. Mas é claro que isso não exclui suas necessidades, só nos faz um afago.. Parabéns pelo texto, Paulo 👏👏

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