QUANDO A IGNORÂNCIA VESTE A CAPA DE SABEDORIA
- Paulo Garcia
- 19 de ago
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de ago

Se você leu um dos meus textos anteriores no blog sobre o emburrecimento coletivo, deve ter sentido um certo desespero: o espetáculo tragicômico de gente que fala sem saber, mas fala como se fosse Einstein reencarnado. Pois bem, agora vamos colocar um nome nesse fenômeno: efeito Dunning-Kruger.
Dois psicólogos americanos, David Dunning e Justin Kruger, descobriram isso em 1999. Eles deram testes de lógica, gramática e até humor a algumas pessoas e depois pediram que avaliassem seu próprio desempenho. Resultado: os piores se achavam gênios. Os realmente competentes? Ah, esses duvidavam de si mesmos, porque, vejam só, quanto mais se sabe, mais se percebe o tamanho do desconhecido. Ironia pura, não é?
O efeito Dunning-Kruger não é só um truque psicológico engraçadinho. Ele é perigoso, armadilhado para extremismos. Pessoas que mal sabem a diferença entre fato e opinião falam com tanta convicção que convencem outros igualmente desinformados. E o que é mais encantador? Eles nem percebem que não sabem. Quer um exemplo? É aquele sujeito que, depois de assistir a um vídeo de cinco minutos, se transforma em especialista em política internacional, ciência climática ou história medieval. E você, que passou anos estudando, só consegue balançar a cabeça e pensar: “como chegamos a esse ponto?”
E se a ignorância já é problemática, as bolhas de informação nas redes sociais são o micro-ondas que a aquece e a multiplica. Os algoritmos nos entregam só o que queremos ouvir. Likes? Confirmação. Comentários? Certidão de competência. Cada meme que aplaudimos é uma medalha dourada para nossa ilusão de autoridade.
O efeito Dunning-Kruger adora esse tipo de ambiente. Ele se expande, se fortalece, e você mal percebe que está participando de uma festa em que o único requisito para entrar é não saber nada e ter certeza absoluta.
Agora, imagine essa ignorância multiplicada por uma juventude que cresceu imersa no bombardeio digital. Vídeos de 15 segundos, threads, TikToks e memes virais moldam o entendimento de mundo de quem mal aprendeu a digitar sem erros. Eles confundem popularidade com autoridade, viralidade com verdade, curtidas com relevância. E, claro, o efeito Dunning-Kruger encontra sua nova geração de campeões: adolescentes que acreditam que já sabem tudo sobre tudo.
É o futuro da ignorância confiante. Uma geração que, antes de ler um livro de verdade, já se considera especialista em economia, política, medicina e até filosofia. Se isso não é motivo para rir e chorar ao mesmo tempo, eu não sei o que é.
Mas nem tudo está perdido. Existe uma vacina contra o efeito Dunning-Kruger: educação crítica e libertadora. Mas atenção! Não aquela que decora datas e fórmulas, nem aquela que ensina a repetir opiniões sem pensar. Falo de educação que ensina a pensar sobre o pensar, a questionar a si mesmo e a valorizar a complexidade. O antídoto é simples: aprender a admitir que não se sabe, cultivar humildade intelectual e abraçar o contraditório. Porque, sejamos sinceros, reconhecer a própria ignorância é mais subversivo hoje do que nunca.
O efeito Dunning-Kruger é o espelho mais cruel do emburrecimento coletivo que descrevi em outro texto. Ignorância confiante, bolhas de informação, extremismos e juventude digitalizada: tudo junto, um coquetel explosivo servido em doses virais. Se quisermos sobreviver a esse circo de certezas rasas e opiniões inflamadas, precisamos educar para pensar, duvidar e questionar.
E da próxima vez que alguém com convicção infinita disser algo absurdo, admire, com certo desespero, a coragem. E lembre-se: essa pessoa é a prova viva do efeito Dunning-Kruger, e, feliz ou infelizmente, você acabou de testemunhar o espetáculo da ignorância confiante em ação.
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